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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Agora o bicho vai pegar

O filme escolhido de hoje é o filme nacional mais visto na história do cinema brasileiro: Tropa de Elite 2.


É muito comum ouvir por aí: “Ah, mais um filme de bandidos, drogas e etc.? Parece que o Brasil só sabe fazer filme assim! Por isso que os outros países vêem o Brasil desse jeito”. Eles vêem o que tá aí. Um choque de realidade é sempre dolorido, não é? O Brasil é um país de belezas naturais, sim, mas toda moeda tem dois lados. Por que não mostrar o lado ruim da moeda?

O inimigo agora é outro. O inimigo passa a ser o próprio sistema. O Tropa 2 envolve não só o BOPE, a polícia e os traficantes, mas também milícias e políticos. A história do filme ocorre 13 anos após os acontecimentos do Tropa 1 e tem um cenário diferente. A briga do agora Tenente Coronel Nascimento (Wagner Moura) com o sistema se inicia com uma ordem desobedecida por André Matias (André Ramiro) durante uma rebelião no presídio de Bangu I. Matias atira em Beirada (Seu Jorge) quando a situação já estava sob controle. A desobediência faz com que Matias seja expulso do BOPE e faz com que Capitão Nascimento seja elevado a Subsecretário da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, já que o assassinato do perigoso Beirada foi bem visto pela sociedade e Nascimento assumiu a responsabilidade pelo que aconteceu. Já na Secretaria, Nascimento transforma o BOPE em uma arma de guerra, expandindo-o e, assim, eliminando boa parte dos traficantes da Zona Oeste do Rio. Nascimento acreditava que a corrupção envolvendo policiais buscando por propina diminuiria se os traficantes fossem eliminados, mas não foi o que aconteceu. Eis que surgem as milícias. Essas funcionam da mesma forma que os policiais corruptos de antes, só que agora não há o traficante de intermediário, ou seja, a propina obtida dos moradores das favelas é ainda maior. Sendo assim, quanto menor o número de traficantes comandando favelas, melhor para as milícias. Assim, os líderes corruptos dessas tais milícias decidem roubar armas de um quartel e fazem com que pareça que foi uma ação de traficantes do bairro de nome "Tanque". O que acontece depois é o que faz com que Nascimento leve essa guerra pro lado pessoal. É aí que ele percebe quem são seus verdadeiros inimigos.


Onde os políticos entram nessa história? O esquema é simples: A Secretaria de Segurança "contrata" o Tenente Coronel Nascimento. Nascimento expande o BOPE e os traficantes são eliminados. As milícias dominam as favelas. Os políticos se unem às milícias em busca de votos nas favelas. Pronto. Esta é a fórmula mágica que forneceria a propina aos membros das milícias e votos aos políticos. A ação ainda teria o apoio da população e da mídia, visto que os homens perigosos das favelas estavam sendo eliminados um por um. Nascimento se tornou parte do sistema que ele lutava contra sem ao menos perceber. Ou melhor, até percebeu, mas se foi tarde ou não, só quem viu o filme sabe.

“O sistema se reestrutura. Cria novas lideranças. O sistema dá a mão para não perder o braço.” - Roberto Nascimento

O sistema se reestrutura sempre. Se não pode mais colher benefícios de um lado, parte pra outro. As chances de derrotar um sistema que está em constante reestruturação são mínimas. Qualquer pessoa sensata pode chegar a essa conclusão. Ainda mais porque o sistema é influente em várias camadas. Vai mais fundo do que nós podemos imaginar. Chega naquelas camadas que nós estamos cansados de chamar de corrupta. Nenhuma surpresa por aqui. É só o Brasil funcionando como sempre funcionou. Até quando isso vai durar? Isso algum dia vai mudar? Poderia mudar, mas isso requereria uma mudança geral no comportamento social dos brasileiros assim como na forma de enxergar o dinheiro. Cá entre nós, quais são as chances de mudanças desse aspecto ocorrerem? 


Como dizem: o mal do Brasil é o brasileiro.

Jess Freitas

Um comentário:

  1. excelente post, botou em palavras exatamente tudo o que eu penso

    acho interessante compartilhar aqui tambem esse post
    http://www.ambrosia.com.br/2010/10/14/tropa-de-elite-2-uma-falha-chamada-seguranca-publica/ que relaciona os eventos do filme com acontecimentos reais ocorridos no Rio desde 2004-2010

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