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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Multidão



Sou apenas mais um na multidão,
Tentando me achar nessa grande ilusão.

E esperando a verdade encontrar,
Mas já não à vejo, e nem sei onde olhar.

Olho aqui, olho acolá,
Só vejo mentiras e também falsetas.

Já não quero mais ser um na multidão,
E só quero perder-me em minha vasta ilusão.


Japa Ramos

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meia palavra

Cultura, linguagem e o problema da religião



“Tudo é questão de interpretação... Tudo é relativo... Tudo depende de ponto-de-vista...” Quantas vezes você já não ouviu isso? Pare pra pensar um pouco. Este blog existe pra isso, certo? Não querendo desprezar aqui sua capacidade de refletir sobre a vida sozinho. Mas qualquer ajuda é válida, sem dúvida.

Vamos lá. 

Ninguém olha para alguma coisa enxergando exatamente o que os outros vêem. Se cada detalhe das óticas pudesse ser medido, se poderiam identificar inúmeras diferenças entre elas. É o tal do perspectivismo, de Nietzsche*. E é isso que torna a convivência complicada. O ser humano é um ser social, sim. Depende do outro para poder ser alguém, ter alguma coisa, fazer algo. A comunicação é evidentemente o ponto-chave da educação, da formação cultural, embora ao mesmo tempo em que a linguagem seja o principal recurso do homem, é também o que o limita.

O limita porque quase nunca expressa em plenitude o que deveria. Interpretações mal-embasadas, politicagens, mentiras, tendências subjetivas, associações equivocadas... São muitas as falhas da língua, que não permitem o entendimento profundo das essências. Isso, partindo do princípio de que as coisas têm como uma de suas propriedades a objetividade, claro.

Por mais banal e chinfrim que pareça esse papo, tenha a certeza de que se a linguagem não fosse tão redutiva de seus significados, muita coisa seria diferente. Muita coisa não, tudo! As religiões não seriam as mesmas, as ciências não seriam as mesmas, a política tampouco. A vida seria absurdamente outra, assim como hábitos, costumes e a cultura, enfim.


Ruth Benedict, antropóloga americana, escreveu** que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Mas é claro! Ou vai dizer que a vaca argentina tem a mesma importância que a indiana? A argentina enche famílias ricas de proteínas; a indiana enche famílias hindus de santidade.

E nesse meio todo, é absolutamente necessário relevar a alteridade, o “enxergar o outro pelo outro”, como disse um tio meu uma vez. Já que temos o péssimo hábito (que, por coincidência ou não, também é fruto de uma ideia de sociedade e de vida pré-estabelecida) de julgar outras culturas pela nossa, como se nosso jeito de viver fosse de fato uma referência. Enfim, não é. Aliás, nenhuma é. Por que seria? Algum valor soberano? Moral perfeita? Ética fundamentada em uma suposta superioridade legitimada pelo senso comum? Acho que não. Isso nem deve existir.

Com certeza, toda ideia que contraria o respeito à vida não deve ser levada em consideração. Mas é realmente interessante como algumas pessoas se vestem dos estereótipos “bonitinho”, “bonzinho” e “santinho”, enquanto julgam condutas de outras civilizações, vertentes de pensamento e orientações sexuais como condenáveis ao sofrimento eterno por punição do divino. Tudo bem, há explicação para toda essa bagaça, que são as verdades determinadas em função de um conceito que só deu certo por ter a si próprio como argumento de sustentação. Não preciso dizer o que é e não estou dizendo que é errado ou falso, antes de qualquer coisa. Você sabe bem do que se trata, se for bom entendedor. 


* A figura de Nietzsche, no contexto do post, é bem contraditória. O pensador alemão desenvolveu o perspectivismo (argumento usado pelo blogueiro para compreensão das diferentes culturas), mas ao mesmo tempo era racista, acreditando haver raça superior.
** O Crisântemo e a Espada, 1946

Marvin Bessa

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vergonha Nacional



Tenho aqui no meu Brasil riquezas naturais a mil,
E é triste mencionar a pobreza que aqui há,
Nosso povo é explorado e assim amargurado,
Isso desde Portugal e todos acham tão normal,
No governo a roubalheira e também caras-de-pau,
Se convencem que a propina já virou coisa banal,
E o povo brasileiro leva tudo à brincadeira,
Estou cansado da cegueira da justiça brasileira,
E também do comodismo das pessoas do Brasil,
Desigualdade social de Porto Alegre a Manaus,
Leis que não servem para nada a quem não tem conta bancária,
O egoísmo dos ricos e a necessidade dos pobres,
Como consequência de tudo a violência na "capital",
Contudo pena de morte não é só de um criminoso,
Mas também de todo o povo,
E que coisa anormal,
É a vergonha nacional!

Japa Ramos

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Alienados, mas sarados

Réquiem: ré.qui.em sm Liturg Celebração que se faz pelos mortos. Liturg O cântico ou música dessa celebração (Michaelis – Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa).

Fúnebre? Sombrio? A definição acima é meramente explicativa. O filme de hoje é Réquiem Para Um Sonho, um drama de Darren Aronofsky - também diretor de Pi e Cisne Negro.



O filme é centrado em quatro personagens: Sara Goldfarb (Ellen Burstyn)Harry Goldfarb (Jared Leto), Marion Silver (Jennifer Connelly) e Tyrone C. Love (Marlon Wayans). A trama mostra como os vícios foram, aos poucos, causando problemas gravíssimos para cada um dos personagens. Vícios, no plural mesmo. Heroína, cocaína, anfetaminas e sedativos são os que eu recordo no momento.

“Ah! Vai falar sobre os problemas causados pelo abuso de drogas! Ainda mais com a morte da Amy Winehouse...”. Eu até poderia falar sobre isso. Seria óbvio e propício, mas enfadonho. Tenho certeza que todos nós fomos soterrados por discursos medíocres e hipócritas sobre o assunto em todos os lugares e redes sociais. Então, não. Esse não vai ser o assunto de hoje.

Voltando ao filme. O que me chamou a atenção (e também me irritou) foi o motivo pelo qual a Sra. Goldfarb, mãe de Harry, se afundou no mundo dos vícios. A história é a seguinte: Sara Goldfarb recebeu uma carta de um programa televisivo convidando-a para participar. Era simples. Bastava preencher uns papéis e esperar ser chamada. Logo que teve a notícia, tratou de buscar seu melhor vestido para ver se ainda lhe servia. No entanto, não foi este caso. A senhora logo percebeu que precisaria perder alguns quilos para estar em forma quando fosse aparecer na televisão. De início, tentou uma dieta à base de laranja e ovos cozidos, mas sentia dificuldades em mantê-la. Ao perceber que não conseguiria seguir tal dieta, Sra. Goldfarb telefona para uma de suas amigas e pede o número de um médico que a amiga havia comentado. Tal médico receitava pílulas que tiravam a fome e, consequentemente, ajudavam a emagrecer. A receita era simples: quatro pílulas. Uma roxa de manhã, uma azul à tarde, uma laranja à noitinha e uma verde à noite. O que a Sra. Goldfarb não sabia era que as pílulas roxa, azul e laranja eram anfetaminas e que a verde era um sedativo. Mesmo depois de alertada pelo filho sobre o que eram e quais eram os efeitos de tais pílulas, Sara não parou de tomá-las. Pelo contrário: aumentou a dose quando percebeu que o efeito não era o mesmo de antes. Tudo isso para que pudesse estar em perfeita forma quando fosse chamada para participar do programa, entre outros motivos mais profundos.

Aaah. O ser humano e sua eterna busca pelo corpo padrão. Convenhamos, quem não está? Ou melhor, quem não deseja? E isso começa desde cedo. Hoje em dia, adolescentes cada vez mais jovens freqüentam academias a fim de se encaixar no perfil em que a sociedade considera aceitável, bonito. Aquele quilinho a mais vira motivo pra desespero e dietas sem fundamento. Mas de que vale ter a aparência sem ter conteúdo? Como conversar com alguém sem nada a acrescentar?


Pode-se dizer que vivemos na época do superficial, do vazio. Não me entendam errado. Não estou dizendo que todas as pessoas que se preocupam com o corpo são vazias. De forma alguma. Muitas pessoas tomam certos cuidados a fim de se tornarem mais saudáveis. Isso eu entendo. O que me preocupa é a ordem de prioridades. Desvalorizam o conhecimento, o estudo. Colocam a aparência em frente à inteligência. Compram roupas desconfortáveis, mas que estão na moda. Pagam mais pela marca que pelo produto em si. Fazem tudo o que a sociedade aprova e abraça com todo o carinho. É a tal da alienação.

Que fique claro: não estou aqui para menosprezar a beleza, só para ressaltar que ela não é tudo. É só um complemento, por mais clichê que isso possa soar.

“Ah! Isso deve ser papo de uma gorda feia”. Talvez sim, talvez não. Isso faz diferença? Sinceramente, já está mais do que na hora de nós revermos algumas das nossas prioridades.

Jess Freitas

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Alerta Vermelho - Medrosos ou prudentes?





Acusei a ausência de heróis como um valente justiceiro sedento de mudanças, cabe agora ver o outro lado da moeda. O Sr. Porém e o poder dos vilões.

Foi mostrado no último alerta, o poder que a mídia tem sobre nosso cotidiano e nosso comportamento e também foi apresentado que podemos mudar, pois temos o poder de escolha que muitas vezes esbarra na acomodação, no descaso, no desinteresse e na vergonha do ser e fazer.

O nosso papel no combate à corrupção seria obviamente denunciar todas as ilegalidades que presenciamos ou apenas constatamos. Não é preciso estudar muito para enfrentar esses problemas, muito menos ter dinheiro. O que se precisa é de coragem. Essa é a receita da missão.

Entretanto, acredito que ainda que esse mundo esteja cada vez mais egoísta e desconfiado, existe amor e zelo pelas famílias e é aí que se encontra o Sr. Porém. Preferimos ser medrosos e nos calar perante o público, tendo que engolir nossas denúncias e injustiças do que correr o risco de ameaçarem as pessoas que ainda temos e amamos, estou errado? Isso é um fato, juízes que resolvem fazer justiça, procuradores, policiais, entre outros sabem que é um risco certo. Combater a corrupção é para alguém que não tem nada a perder. Está aqui a dificuldade de se encontrar os heróis pelo mundo. Os vilões são cruéis, eles mandam matar, e não há nada pior que viver perseguido.

Juiz condena 114 e vive preso no Fórum
“De Ponta Porã, no Mato Grosso do sul, fronteira com o Paraguai, me chega a história do juiz federal Odilon de Oliveira que, depois de condenar 114 traficantes, foi ameaçado de morte e agora vive preso”
Clique aqui para ler a matéria na íntegra


Diante dessa discussão, cabe a nós verificarmos o que ganhamos e o que perdemos; quem ajudamos e quem prejudicamos. O fato é que o filme citado nos apresenta uma questão interessante: Para quem fazemos isso? (fala de um policial). 


O filme Tropa de Elite 2, neste aspecto, demonstra uma realidade, uma história espetacular e que prova que o sistema atinge quem você mais ama. 


Se grande parte de ricos brasileiros estão nessa condição financeira alcançada por meios ilícitos, principalmente os políticos, para quem a polícia serve? A classe média brasileira talvez mereça uma atenção especial nesse contexto, embora tenhamos a noção de que essa própria classe se encontra imersa em problemas. Umas são estáveis, outras não. As drogas, a falta DA educação, a negligência e a imprudência de muitos jovens não nos permite definir. Seria até errado generalizar uma vez que tantos pobres como ricos tem suas exceções.

Independente dessa investigação pessoal, nosso problema atual brasileiro é a falta de educação como política de estado. A corrupção é mera consequência. O Brasil há de ser uma potência mundial, no entanto, o país continua beneficiando uma classe elitista desde os tempos de colônia, e continua produzindo humanos sem educação e altruísmo.

Brasil, um país de poucos.

 


"O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz."
-- Aristóteles

"O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não."
-- Mahatma Gandhi

Kako Menezes