Páginas

segunda-feira, 11 de abril de 2011

As coisas que você possui acabam possuindo você

A frase-título foi dita pelo grande Tyler Durden. Quem é esse? Ah, vocês vão já conhecê-lo. Bom, vamos ao que interessa: o filme de hoje é Clube da Luta, de David Fincher (diretor de A Rede Social, O Curioso Caso de Benjamin Button, Quarto do Pânico, entre outros).


Em tese, Clube da Luta é considerado um filme de drama, mas não se resume somente a isso. Tem uma pitada de comédia e um pouco de ação também. Em resumo, tem os ingredientes que podem gerar um bom filme, a começar pelos atores. O filme conta com nomes como Brad Pitt (Brad Pitt), Edward Norton (O Ilusionista), Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei) e Jared Leto (Réquiem Para um Sonho). Quanto às premiações, o filme recebeu uma modesta indicação ao Oscar de Melhor Edição de Efeitos Sonoros, mas quem levou a estatueta foi Matrix.

A história do filme é contada pelo personagem - inicialmente sem nome - de Edward Norton, um homem comum que trabalha em uma companhia de automóveis em viagem e que sofre de insônia. O narrador conta que, quando se sofre de insônia, você nunca consegue dormir ou ficar acordado por completo. É como se você sempre se mantivesse em um meio termo e isso o atormentava. Então, o narrador busca por ajuda médica para receber remédios que  o ajudariam a dormir, mas o médico afirma que ele precisa de um sono "limpo" e recomenda que frequente um grupo de apoio a homens que sofrem de câncer no testículo para que ele saiba o que de fato é sofrimento. Nos grupos de apoio, o narrador consegue "se libertar", consegue chorar e, consequentemente, consegue dormir. Rapidamente, ele se torna viciado a grupos de apoio mesmo não tendo nenhum dos problemas em pauta.


Depois de um tempo frequentando diversos grupos de apoio, o narrador percebe que há outro "farsante" além dele. Marla, Helena Boham Carter, também frequenta alguns grupos de apoio (inclusive o de câncer no testículo) que ele frequenta e a presença dela o deixa incomodado. Ele aceita a sua condição, visto que ele precisa dos grupos para que seja capaz de dormir, mas não entende o motivo de ela também fazer o mesmo. Sendo assim, eles combinam dias da semana diferentes para irem aos grupos de forma que eles não se encontrem.


Um tempo depois, voltando à sua casa após uma viagem de negócios, o narrador encontra seu apartamento destruído por um incêndio. Sem ter a quem recorrer, ele resolve pedir socorro a um vendedor de sabão que ele havia conhecido no avião: Tyler Durden (Brad Pitt). Eles se encontram em um bar e conversam por um bom tempo até que Tyler oferece sua casa para que o narrador passe um tempo, e ele aceita. Ao saírem do bar, Tyler pede que o narrador o bata o mais forte que puder, mas o narrador não vê motivo para socá-lo. "Quanto você pode saber sobre si mesmo se nunca esteve em uma briga?" foi a frase que o convenceu. A partir daí, a luta virou rotina e foi ganhando proporções cada vez maiores. Em pouco tempo, diversos homens se reuniam para lutar uns com os outros e foi aí que surgiu o "Clube da Luta". Lutar dava ao narrador a tranquilidade de espírito que ele precisava para dormir e, consequentemente, o clube veio por substituir os grupos de apoio que tanto o ajudaram. Marla não cumpriu o esquema prometido pelos dois e frequentou os grupos de apoio nos mesmos dias que o narrador deveria frequentar, mas ele não estava mais indo. Algum tempo depois, Marla o liga em uma chamada de socorro, pois ela havia ingerido uma grande quantidade de pílulas, mas ele se recusa a ir até sua casa ajudá-la. Tyler, no entanto, percebe que o telefone está fora do gancho e resolve ouvir quem está do outro lado da linha. Assim, ele vai até sua casa e os dois terminam por se envolver. Obviamente, o narrador não ficou muito feliz com a situação e, para ficar ainda mais estranho, Tyler havia pedido que o narrador não conversasse sobre ele com Marla.

Enquanto isso, o Clube da Luta ganhava proporções enormes e findou por tornar-se uma organização contra o materialismo e contra o capitalismo de nome "Project Mayhem". O narrador logo se irritou com a falta de informação e participação que tinha sobre a organização e resolveu questionar Tyler, mas este havia sumido, deixando apenas algumas passagens em sua gaveta como vestígio. A morte de um dos membros do Projeto durante uma missão foi o estopim para que o narrador tentasse dar um fim no projeto. Primeiramente, ele resolve achar Tyler a qualquer custo seguindo as pistas deixadas. A partir daí as coisas começam a ficar confusas e contá-las a vocês tiraria o brilho do filme.

Tyler costuma discursar antes e depois das lutas. Eis um de seus discursos:

"Cara, eu vejo no clube da luta os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial, e vejo-o desperdiçado. Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas, ou escravos do colarinho branco. Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual... nossa Grande Depressão são nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados."

Sinceramente, tem como dizer que tudo dito acima não tem cabimento? Doze anos se passaram desde o lançamento do filme e o que mudou? Ou vai dizer que o mundo não é influenciado pelos anúncios? Vai dizer que hoje nós não somos extremamente materialistas?  Nós criamos e passamos a ideia de que temos que trabalhar cada vez mais para receber mais e consumir mais. Como o próprio diretor do filme disse, "é uma ideia fraudulenta de felicidade". Sim, as coisas que nós possuímos terminam por nos possuir. Não só nos possuir, mas nos definir. Além disso, nós também fomos ensinados e ensinamos a não correr riscos para não sentirmos dor. Viramos espectadores amedrontados demais para fazer de nós protagonistas. Afinal, o que importa é sobreviver, não viver. 

Jess Freitas

Um comentário:

  1. Esse último paragrafo valeu todo o texto. Muito bom, era exatamente isso que estava procurando. Sendo sincero, superou minhas expectativas.

    ResponderExcluir