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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Alienados, mas sarados

Réquiem: ré.qui.em sm Liturg Celebração que se faz pelos mortos. Liturg O cântico ou música dessa celebração (Michaelis – Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa).

Fúnebre? Sombrio? A definição acima é meramente explicativa. O filme de hoje é Réquiem Para Um Sonho, um drama de Darren Aronofsky - também diretor de Pi e Cisne Negro.



O filme é centrado em quatro personagens: Sara Goldfarb (Ellen Burstyn)Harry Goldfarb (Jared Leto), Marion Silver (Jennifer Connelly) e Tyrone C. Love (Marlon Wayans). A trama mostra como os vícios foram, aos poucos, causando problemas gravíssimos para cada um dos personagens. Vícios, no plural mesmo. Heroína, cocaína, anfetaminas e sedativos são os que eu recordo no momento.

“Ah! Vai falar sobre os problemas causados pelo abuso de drogas! Ainda mais com a morte da Amy Winehouse...”. Eu até poderia falar sobre isso. Seria óbvio e propício, mas enfadonho. Tenho certeza que todos nós fomos soterrados por discursos medíocres e hipócritas sobre o assunto em todos os lugares e redes sociais. Então, não. Esse não vai ser o assunto de hoje.

Voltando ao filme. O que me chamou a atenção (e também me irritou) foi o motivo pelo qual a Sra. Goldfarb, mãe de Harry, se afundou no mundo dos vícios. A história é a seguinte: Sara Goldfarb recebeu uma carta de um programa televisivo convidando-a para participar. Era simples. Bastava preencher uns papéis e esperar ser chamada. Logo que teve a notícia, tratou de buscar seu melhor vestido para ver se ainda lhe servia. No entanto, não foi este caso. A senhora logo percebeu que precisaria perder alguns quilos para estar em forma quando fosse aparecer na televisão. De início, tentou uma dieta à base de laranja e ovos cozidos, mas sentia dificuldades em mantê-la. Ao perceber que não conseguiria seguir tal dieta, Sra. Goldfarb telefona para uma de suas amigas e pede o número de um médico que a amiga havia comentado. Tal médico receitava pílulas que tiravam a fome e, consequentemente, ajudavam a emagrecer. A receita era simples: quatro pílulas. Uma roxa de manhã, uma azul à tarde, uma laranja à noitinha e uma verde à noite. O que a Sra. Goldfarb não sabia era que as pílulas roxa, azul e laranja eram anfetaminas e que a verde era um sedativo. Mesmo depois de alertada pelo filho sobre o que eram e quais eram os efeitos de tais pílulas, Sara não parou de tomá-las. Pelo contrário: aumentou a dose quando percebeu que o efeito não era o mesmo de antes. Tudo isso para que pudesse estar em perfeita forma quando fosse chamada para participar do programa, entre outros motivos mais profundos.

Aaah. O ser humano e sua eterna busca pelo corpo padrão. Convenhamos, quem não está? Ou melhor, quem não deseja? E isso começa desde cedo. Hoje em dia, adolescentes cada vez mais jovens freqüentam academias a fim de se encaixar no perfil em que a sociedade considera aceitável, bonito. Aquele quilinho a mais vira motivo pra desespero e dietas sem fundamento. Mas de que vale ter a aparência sem ter conteúdo? Como conversar com alguém sem nada a acrescentar?


Pode-se dizer que vivemos na época do superficial, do vazio. Não me entendam errado. Não estou dizendo que todas as pessoas que se preocupam com o corpo são vazias. De forma alguma. Muitas pessoas tomam certos cuidados a fim de se tornarem mais saudáveis. Isso eu entendo. O que me preocupa é a ordem de prioridades. Desvalorizam o conhecimento, o estudo. Colocam a aparência em frente à inteligência. Compram roupas desconfortáveis, mas que estão na moda. Pagam mais pela marca que pelo produto em si. Fazem tudo o que a sociedade aprova e abraça com todo o carinho. É a tal da alienação.

Que fique claro: não estou aqui para menosprezar a beleza, só para ressaltar que ela não é tudo. É só um complemento, por mais clichê que isso possa soar.

“Ah! Isso deve ser papo de uma gorda feia”. Talvez sim, talvez não. Isso faz diferença? Sinceramente, já está mais do que na hora de nós revermos algumas das nossas prioridades.

Jess Freitas

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