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quarta-feira, 2 de março de 2011

Manaus x Internet - Capítulo Finalmente | ESPECIAL WAIMIRI ATROARI |



Eles têm internet. Você tem?

Quem nunca pensou que os índios fossem bobos atire a primeira pedra! A passagem da esperada fibra ótica pela reserva indígena Waimiri Atroari, localizada no território roraimense e amazonense custou 7 milhões de reais para empresa de telecomunicações OI, que realizou as obras para dessa implantação. (Lembremos que o total foi R$ 97 milhões).

Caros amigos, quem manda naquela área são eles mesmos e justamente! Os acontecimentos históricos evidenciam injustiças sangrentas. Para quem quer refrescar a memória, vamos recordar um pouco da quase extinção dos Waimiri.

Dentre os vários massacres que aconteceram desde os tempos de expedições até o século passado, podemos identificar sempre os mesmos objetivos do explorador, com olho gordo nas que eram para ser nossas riquezas: recursos naturais. Isso é a mesma coisa que matéria prima que no final das contas é dinheiro que faz o capitalismo funcionar. Os índios, agentes da passiva, especialmente os Waimiri, são conhecidos como o ditado “cada macaco no seu galho”, isso explica-se pelo simples fato de que o contato poderia corromper o sistema cultural deles. E corrompeu. Entenda:

“Na década de 1960 foram iniciados, por parte do Serviço de Proteção ao Índio - SPI e em seguida pela Fundação Nacional do Índio - órgãos indigenistas oficiais -, os trabalhos da Frente de Atração e Contato dos Waimiri Atroari, desencadeando-se um processo de desagregação cultural, através do qual sua população foi exposta ao implacável expansionismo social e econômico da sociedade brasileira, impulsionado pelo ufanismo que se criou durante o chamado "milagre econômico", alardeado pelo então governo militar brasileiro como uma era em que as políticas públicas deviam se voltar para o progresso e a integração nacional.

A intensificação do contato da sociedade nacional com os Waimiri Atroari acarretou-lhes, por essa época, conseqüências dramáticas, em termos de depopulação provocada por choques armados e surtos epidêmicos de doenças exógenas que debilitaram toda sua população, a ponto de as pessoas em idade produtiva não poderem mais caçar, pescar nem cultivar roças, fato que acabou por redundar num grave estado de inanição e desagregação social em várias de suas aldeias.

Três grandes empreendimentos estiveram na base desse processo: a rodovia BR 174, estabelecida, dentro da terra indígena, entre 1974 a 1977; a instalação do Projeto Pitinga (do grupo Paranapanema), de extração de cassiterita, como resultado de chicanas jurídico-administrativas, tramadas nas esferas do governo federal, que culminaram no esbulho da terra dos Waimiri Atroari em 526 mil ha, e na abertura, no interior dela, de uma estrada ilegal para o escoamento do minério extraído.

Por fim, houve a construção da hidrelétrica de Balbina (concluída em 1987), único empreendimento que teve a preocupação e o compromisso ético de procurar minimizar os impactos sócioambientais negativos que poderiam afetar a comunidade Waimiri Atroari, em decorrência não só do reservatório de 30 mil ha construído na terra indígena, como também de todo o contexto social, político e econômico da região.

Nesse sentido, a primeira providência adotada foi a demarcação (em 1987), através de financiamento pela Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - ELETRONORTE, de uma terra com superfície de 2.585.911 ha, de conformidade com a proposta delimitatória apresentada por estudos antropológicos realizados por grupo técnico constituído pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI.

A segunda foi a implantação do Programa Waimiri Atroari, em 1988, com ações múltiplas nas áreas de administração, saúde, educação, meio ambiente, apoio à produção, documentação e memória. O objetivo pretendido foi o de que os Waimiri Atroari pudessem preservar dinamicamente sua autonomia cultural, a partir de uma inserção social em bases equilibradas, no contexto da sociedade nacional - o que, infelizmente, não ocorre com a maioria dos povos indígenas no Brasil.” – WAIMIRIATROARI.org.br*

Não leia como se você já soubesse ou  como se invadisse sua casa fosse a coisa mais normal do mundo. Bem, o fato é que os Waimiri diante de tanta luta e desgraça, merecem um respeito especial. Eles estão perto da sociedade, mas valorizam sua cultura. Levando isso em conta, é mais que justo pensar em algumas exigências feitas pelos índios ao ver mais uma vez o homem urbano entrando na sua casa pedindo permissão para o que se chama de progresso.

Se você gosta das últimas cenas de um filme que mostra a volta por cima do mocinho prejudicado, confira os valores gastos com o provável obstáculo para o progresso:

1 - Segundo o site Valor Econômico, o governador do Amazonas, Omar Aziz, conta que só para fazer a BR-364, de Boa Vista a Rio Branco, tivemos que pagar a tribos indígenas R$ 15 milhões para que elas autorizassem a gente a passar.

2 - Segundo o Jornal A Crítica, Os índios possuirão Internet Banda Larga, 48 pontos de telefone, sistema de câmeras de monitoramento nas aldeias, sistema de rádio para carro, entre outras exigências. Dos 900 quilômetros da obra, 126 são da terra indígena.

Ainda de acordo com o informado pelo jornal A Crítica, para a obra, foram necessários licenciamentos ambientais federais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Além disso, a OI precisou da licença de seis prefeituras dos municípios que interceptam o trecho do cabo de fibra ótica: Boa Vista, Rorainópolis, Caracaraí, Mucajaí, Iracema, Presidente Figueiredo e Manaus.

O panorama foi apresentado para mostrar de forma clara que o tempo muda as coisas, e que o direito que os índios têm, eles põem em prática. Aos desenvolvimentistas em plantão, temos um patrimônio a zelar, irmãos para cuidar e uma história para contar. Repensem nas estradas e no futuro do Estado do Amazonas, por enquanto o mais conservador e preservador em questões ambientais. 

Agora, que você já conhece um pouco da história dessa reserva indígena tanto quanto o último dia da prova do líder do BBB, se sinta um pouco mais regionalista e mergulhe com a gente nos próximos assuntos regionais que envolvem história e cultura amazonense.


* Conteúdo retirado do site http://www.waimiriatroari.org.br/

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* Toda semana indicarei filmes relacionados aos meus posts.


Kako Menezes





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