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segunda-feira, 21 de março de 2011

Depois do hiatus

Hoje, dia 21 de Março, é comemorado o Dia Nacional da Terra e isso não tem absolutamente nada a ver com o post de hoje. Bom, a não ser o fato de que o filme se passa na Terra. Enfim, o filme escolhido para hoje é, assim como o de semana retrasada, um dos filmes indicados ao Oscar de melhor filme de 2010/2011: Cisne Negro, o thriller psicológico do muito bem falado Darren Aronofsky.


Palavras da revista Empire: “an extraordinary intoxicating masterpiece” (uma obra-prima extraordinária e inebriante).

Eu tenho certeza que boa parte de vocês já ouviu algum ser humano comentando sobre tal filme. É bastante comum ouvir coisas como “Não faz sentido”, “Não tem lógica” ou “É confuso”. Besteira! Esqueça tudo isso. Os elementos do filme estão todos ligados e fazem perfeito sentido, mas vamos por partes.

Como de costume, eis o trailer seguido de uma sinopse:


Nina (Natalie Portman) é bailarina de uma companhia de balé de Nova York. Sua vida, como a de todos nessa profissão, é inteiramente consumida pela dança. Ela mora com a mãe, Erica (Barbara Hershey), bailarina aposentada que incentiva a ambição profissional da filha. O diretor artístico da companhia, Thomas Leroy (Vincent Cassel), decide substituir a primeira bailarina, Beth MacIntyre (Winona Ryder), na apresentação de abertura da temporada, O Lago dos Cisnes, e Nina é sua primeira escolha. Mas surge uma concorrente: a nova bailarina, Lily (Mila Kunis), que deixa Leroy impressionado. O Lago dos Cisnes requer uma bailarina capaz de interpretar tanto o Cisne Branco com inocência e graça, quanto o Cisne Negro, que representa malícia e sensualidade. Nina se encaixa perfeitamente no papel do Cisne Branco, porém Lily é a própria personificação do Cisne Negro. As duas desenvolvem uma amizade conflituosa, repleta de rivalidade, e Nina começa a entrar em contato com seu lado mais sombrio, com uma inconseqüência que ameaça destrui-la. 

Para os que não estão familiarizados com o balé “O Lago dos Cisnes”, a citação do início do trailer é suficiente para entendê-lo: “É sobre a garota que é transformada em um cisne. Ela precisa de amor pra quebrar o feitiço, mas seu príncipe se apaixona pela garota errada e, então, ela se mata.” Dramático, sim, mas onde o cisne branco e o negro entram nessa história? Simples. O cisne branco seria a garota “certa” e o negro, consequentemente, seria a “errada”. Enquanto o cisne branco é doce, ingênuo, frágil e contido, o cisne negro é forte, malicioso, sensual e espontâneo. Nota-se claramente aqui um dualismo entre os dois cisnes, ou seja, eles funcionam de formas inconciliáveis e totalmente opostas. O filme tenta sempre mostrar bem esses extremos, como, por exemplo, nas roupas.


Percebam que Nina usa sempre roupas de tons mais claros, enquanto Lily opta pelas de tons mais escuros. A ideia é a de que as duas sejam as personificações dos devidos cisnes.

Para entender bem o filme, vamos nos focar na personagem principal. Nina é uma bailarina perfeccionista e aplicada ao extremo e isso faz com que seus movimentos sejam precisos, mas muito rígidos. Sendo assim, ela tem bastante facilidade para dançar e interpretar o cisne branco, mas encontra dificuldade para com o cisne negro. Isso porque ela teria que liberar seu lado mais forte e sensual, tarefa não muito fácil para a contida e até frígida bailarina.




A história do filme gira em torno de Nina buscando aperfeiçoar o seu papel como cisne negro, mas ela encontra diversas dificuldades no caminho. Além de toda a pressão causada pelos bastidores de uma companhia de balé - e também pelo seu diretor -, Nina sofre de bulimia e, para completar, é atormentada por uma série de alucinações. Ela também sente o peso de ter uma mãe, ex-bailarina, superprotetora a níveis sufocantes e que parece orgulhosa por sua filha, mas ao mesmo tempo demonstra certa inveja por não ter conseguido chegar aonde a filha chegou. Para completar o "combo", a chegada de Lily à academia deixa Nina muito mais nervosa e insegura. Todos esses fatores fazem com quem suas alucinações só piorem à medida que se aproxima a data da apresentação. A confusão mental de Nina chega a um ponto em que ela nem sequer consegue discernir o que é real do que é imaginação. Chega até a confundir quem está assistindo, já que vemos o filme do “ponto de vista” de Nina, mas nós fomos beneficiados pela edição de áudio. Sempre que Nina está alucinando, ela ouve (e, logicamente, nós também) sons estranhos, mas conhecidos. Seja um bater de asas, a sua mãe chamando-a repetidamente de “sweet girl” ou a risada de sua “arquiinimiga”. No entanto, a jogada mais genial foram as imagens escondidas na cena em que Nina e Lily vão para uma boate (isso porque recomendam constantemente que Nina relaxe e viva um pouco mais). A cena é bem rápida e as imagens só podem ser vistas em câmera lenta ou pausando. 



Quem não assistiu ao filme provavelmente não vai entender boa parte dessas imagens escondidas, então, eu espero atiçar a curiosidade daqueles que ainda não assistiram. Não contar o desfecho virou praticamente política da casa e não será diferente hoje.

Há diversas coisas interessantes para serem retiradas e comentadas a respeito do filme como, por exemplo, a mãe que teve seu sonho destruído por uma gravidez e que passou a viver em função da filha ser o que ela não foi. Essa pressão findou por refletir na personalidade e no comportamento de Nina. Principalmente no comportamento em relação ao balé. É possível notar facilmente a busca da bailarina pela precisão e perfeição dos movimentos, mas nunca sequer a vemos se divertir ao dançar. É como se ela dançasse para agradar a seu diretor ou a sua mãe. Basicamente, agradar a todos menos a si mesma. Isso reflete muito bem o que muitos jovens passam hoje em dia em épocas de vestibular, por exemplo. Os “negócios de família” acabam por formar profissionais medíocres e que não gostam do que fazem. Isso porque a sociedade impôs que filho de médico deve ser médico e que filho de advogado deve ser advogado (não é sempre, lógico). "Nada abaixo disso. Nem pensar! Pra quê cursar uma área que não traz retorno financeiro? É besteira. É burrice". O que fazer quando seus talentos são voltados para profissões mal pagas? O que fazer quando uma pessoa sabe que nasceu para ser professor? Aliás, é inconcebível certas profissões, como a de professor, não terem seu devido reconhecimento. Como pode a maioria das pessoas que são responsáveis por nos passar conhecimento receberem um salário tão meia-boca? Consequentemente, o baixo salário gera poucos e maus profissionais o que dificulta ainda mais as melhoras no sistema educativo. 


Outro ponto é: as pessoas deixam de cursar o que as realizariam e buscam o que é mais conveniente, o que soa melhor e/ou o que agrada mais aos outros. Eu, sinceramente, não as culpo e não culpo somente os governantes porque, querendo ou não, nós vivemos num mundo injusto. Querer um salário mais justo para todos é utópico. Uns vão receber pouco trabalhando muito e outros vão receber muito "governando". É assim desde sempre e não há nem sequer vestígio de mudança. É triste, mas c'est la vie.

Jess Freitas

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