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terça-feira, 19 de julho de 2011

Quem é o pai do Real?


Talvez você leitor não concorde comigo, mas eu entendo que as coisas têm o valor que as pessoas dão a elas. E a sociedade tem a capacidade de legitimar qualquer absurdo que seja. Na minha visão, nada tem importância nenhuma em si. Não existe importância objetiva de nada na vida. Nada. Vale a pena aquilo que se acha que vale. Portanto, a importância é subjetiva. Sempre e em todos os casos. Esse é um fato que se pode generalizar, na minha humilde opinião. Como diz um amigo meu, vulgo Kako Menezes, “o que importa é o que interessa”. Literalmente!

Hoje, vem à tona uma parábola que exige sensibilidade para ser compreendida. Primeiro, ela diz respeito a figuras nacionais e, segundo, tenta responder a um mistério que pode não mudar a vida de ninguém, mas pelo menos homenageia o pai do Real. Peraí! Quem é o pai do Real? Essa é a questão!

Era uma vez, na terra de Ilariê, a disputa pelo Troféu Ramo da Videira que daria ao vencedor a oportunidade única de cantar "Ilariê". O ato do canto com o troféu nas mãos era um evento público e absolutamente sagrado, já que a canção significava evidentemente a vitória e divulgá-la a todos demonstrava desejo de compartilhar com os habitantes da terra o sentimento de ter um objetivo alcançado. Sem contar que significava também a união com a Rainha.

A disputa pelo troféu, porém, se dava de uma maneira absurdamente estranha e simples. A representante do povo, que por sinal era a Rainha, escolheria seu par.

A terra de Ilariê, entenda-se, era preenchida por gente de outras localidades, era um misto cultural, verdadeiramente. A nação tinha acabado de passar por um processo lento e difícil de libertação da expressão popular, o que era bom, claro; o problema é que tudo o que caía na boca do povo era taxado de real e absoluto. O que fosse acusado que se virasse para enfrentar preconceitos e mostrar do que de fato era capaz.

Nesse contexto, surge a figura do Otário, um dos buscadores do Troféu, que era assim tido pela população pelo simples fato de a Rainha Ilariê não gostar do seu jeitão e dizer pra ele que gostava. Ele, como otário, acreditava. E por tudo isso, Otário não sabia que Ilariê preferia um outro candidato à “bela canção”, o Maconheiro.

O Maconheiro era adorado por se fazer de coitadinho, usar o carinho como principal argumento para convencer o povo de Ilariê, que por sua vez era mais ingênuo que Júlio César ao confiar em Brutus. Na verdade a Rainha até gostava do Otário, mas se deixou levar pela lábia e pelo pseudo-sofrimento do Maconheiro.

Mas tratemos da competição. Inicialmente, os dois rivais coabitavam com a Rainha, o que conseguisse colocar nela um filho, o Real, seria o vencedor. E agora? Quem seria o pai do Real?

Algum tempo depois, após muito reboliço e muito cochicho, saíra o resultado. À frente da Rainha estavam os dois competidores, quando ela anuncia. “Eu fiquei com o maconheiro!” disse a injusta, infantil e ingênua, embora linda, Ilariê. Aparentemente triste em trair a confiança do perdedor, ela diz ao pé do seu ouvido: “é que eu fui me afastando de você e me aproximando dele... Desculpe”. É nesse momento que o mundo desaba para o Otário, que tenta ser cortês e reconhecer a vitória do adversário.

Ilariê que escolheu, o Otário teve que se render...

Quatro dias depois, conforme a tradição do Ramo da Videira, a Rainha anuncia à população a sua decisão. “O pai do Real é o Maconheiro” grita eufórica da janela de seu suntuoso castelo ao povo que, em sua gigantesca maioria, vibra de satisfação. A outra parte, a minoria, acalenta o coitado derrotado que tenta se reerguer e, pela ajuda de seus aliados, consegue. Enquanto isso, inúmeros passarinhos carregam sinergicamente uma enorme faixa de lã, em que a inscrição “Ilariê Ramo da Videira está em um relacionamento sério com O Maconheiro” enche os olhos de quem gosta ou não do lembrete demonstrativo de que o Otário já o era há muito tempo e não sabia, bem como esclarece a fragilidade psicológica dos pais do Real, que tiveram a capacidade de tomar tal postura tão imaturamente. A bem da verdade, eles se mereciam.

Quem é o Otário da história? Gabriel, Ricardo, Vinícius? Itamar.

Quem é o Maconheiro da história? José, Eduardo, Luiz? Fernando Henrique.

Quem é a Rainha Ilariê não preciso dizer. Nem tampouco que terra é essa. O leitor deve ter a noção exata de quem seja.

Nesse momento, o Otário já não é mais otário. Está num lugar bem melhor que o povo de Ilariê e, certamente, vive melhor não sendo o escolhido da Rainha, porque ele entende que as coisas têm o valor e a importância que as pessoas dão a elas. E o Maconheiro já cantou o hino da infantilidade. “Ilari-ilari-ê, ô-ô-ô. Ilari-ilari-ê, ô-ô-ô...”. O povo se alegrou...

Quem é otário? Bola pra frente! O futuro é o paraíso!


Obs.: este texto foi produzido em 13/07/2011


Marvin Bessa

tags: morre Itamar Franco, Plano Real, Ministério da Fazenda, eleições de 1994, Fernando Henrique Cardoso

Um comentário:

  1. De fato as coisa têm o valor que damos a elas...
    A mim não importa quem é pai do Real, mas o bem que ele nos proporcionou.
    Pessoal mas quase que genial!
    Úrsula

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