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segunda-feira, 25 de abril de 2011

A beleza do "fato real"

Filmes baseados em histórias reais são sempre mais emocionantes e mais envolventes, não é? A ideia de assistir a uma história que de fato aconteceu é sempre mais atraente. Muitas vezes, mais esperançosa também. Bom, sem mais delongas, o filme desta segunda-feira é o excelente drama A Troca, dirigido pelo magnífico Clint Eastwood e estrelado por Angelina Jolie.


Angelina Jolie vive Christine Collins, uma senhora trabalhadora de classe média que vive em função de seu filho, Walter Collins (Gattlin Griffith). Um certo dia, ao retornar um pouco mais tarde de seu trabalho, Christine encontra sua casa vazia. Depois de procurar por um certo tempo e não encontrar seu filho, ela resolve pedir socorro à polícia, mas a resposta que obteve é que nada poderia ser feito até que se passassem 24 horas desde a hora em que o menino havia sumido. 

A polícia, LAPD (Los Angeles Police Department), na época, estava em grande descrédito, boa parte devido a um programa de rádio cujo locutor era o reverendo Gustav Briegleb (John Malkovich). No programa, o reverendo relatava toda a incompetência e corrupção do departamento, além de toda violência causada pelo "Gun Squad" (Esquadrão Armado). Sendo assim, a LAPD decidiu fazer o possível para achar o pequeno Walter, visto que o reencontro de uma mãe com seu filho poderia melhorar a visão que a população tinha sobre o departamento policial. Seis meses depois de desaparecido, Christine é avisada que seu filho fora encontrado com vida e que ela deverá ir a seu encontro na estação de trem. 


No entanto, Christine logo percebe que o menino em questão não era seu filho, apesar de ele mesmo se identificar como Walter Collins. A polícia insistiu em dizer que aquele era seu filho, mas que ele havia sofrido algumas mudanças pelo longo tempo sem comida e bons tratos, mas a mãe era irredutível. Então, apelando para o lado psicológico abalado de Christine, a polícia a convenceu a levar o menino para que, com o tempo, ela perceba que aquele de fato é o seu filho desaparecido. Não aconteceu. Quanto mais o tempo passava, mais Christine notava diferenças entre o menino que a foi entregue e seu filho: Walter era mais alto, não era circuncidado e possuía um comportamento completamente diferente. Além disso, o "falso" Walter não foi capaz de reconhecer sua professora e seu lugar na classe e possuía uma arcada dentária diferente, como foi explicado pelo seu dentista à Christine. Não havia possibilidade daquele menino ser Walter Collins.

Tudo que a LAPD não queria naquele momento era uma controvérsia nestas dimensões, então, quando Christine voltou a afirmar que aquele menino não era seu filho, a polícia a envia para um hospital psiquiátrico sob o "Código 12" de internamento. O "Código 12" era referente a pessoas internadas por serem inconvenientes à polícia e Christine logo descobre que muitas das mulheres ali internadas também foram colocadas sob tais circunstâncias.

Enquanto isso, no Condado de Riverside, um menino canadense de nome Sanford Clark (Eddie Alderson) acusa seu tio, Gordon Northcott (Jason Butler Harner), de assassinar cerca de 20 crianças e de obrigá-lo a fazer parte da matança. Dentre várias fotos, o menino Sandford reconhece Walter como sendo um dos meninos aprisionados no galinheiro do Rancho Northcott, dando a entender que ele era um das crianças mortas. Ossos e restos são encontrados enterrados no rancho, assim como o machado usado para matar as crianças, o que reforçava a história contada por Sanford. A LAPD logo tentou manter a história fora da mídia até que tudo fosse esclarecido, mas isso não foi possível. Todas as informações possíveis estavam nos jornais no dia seguinte, inclusive os nomes das possíveis crianças vitimadas. Isso foi suficiente para que o reverendo Gustav reunisse um pequeno grupo e exigisse que Christine fosse retirada do hospital psiquiátrico, visto que ela não estava errada ao afirmar que seu filho continuava desaparecido.


Gordon Northcott

Christine sai do hospital psiquiátrico determinada a achar seu filho, pois ela não acredita que ele esteja morto. E também, além disso, sai determinada a lutar contra a distribuição de covardia por parte da LAPD, "libertando" todas as mulheres internadas sob o Código 12, por exemplo. O que acontece daí em diante cabe a vocês descobrir. Já compartilhei demais por hoje.

Reverendo Gustav e Christine

Há diversas coisas que poderiam ser retiradas desse filme para reflexão. Inúmeras. Logo de cara, eu poderia citar a corrupção por parte da polícia. No entanto, vale a pena tomar como assunto o orgulho por parte do capitão J.J. Jones (Jeffrey Donovan), responsável pelo caso Collins. O capitão estava tão certo de que seu trabalho em achar o garoto perdido já estava feito que ele sequer pôde abrir os olhos para perceber que havia falhado. Até pôde, mas preferiu por se fingir de cego. Preferiu acreditar que estava certo, mesmo quando tudo indicava o contrário. Não contente em apenas se reafirmar, o capitão ainda usou de seu poder de influência sobre alguns meios para provar para a população que ele estava certo. Assim, o tempo que o capitão perdera negando seu erro e buscando por justificativas um tanto absurdas para os problemas que lhe foram apresentados poderia ter sido usado em uma busca mais veemente, mais apurada. A relutância em assumir o erro junto com seu enorme orgulho fez com que sua carreira fosse empurrada água abaixo. "Mas errar é humano". Não nego. Pelo contrário, até concordo. Mas uma coisa é errar, outra é persistir no erro. Pior ainda é não assumir que errou por puro orgulho, soberba ou até arrogância. Não que ter orgulho seja errado, pois tudo depende de como você lida com isso. É importante manter o orgulho como uma forma de amor próprio e de evolução individual, mas não em excesso a ponto de beirar a vaidade, a ostentação e a soberba.


Obs.: Quem quiser ver fotos da verdadeira Christine Collins e de outros: link 1, link 2 e link 3.


Jess Freitas

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