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terça-feira, 12 de abril de 2011

Antipop total

O que é política?



Aos onze anos de idade, quando não tinha o que fazer (ou seja, quase sempre) gostava de acessar bate-papos online e ficar teclando (que termo fresco) com umas tais de “Htinha”, “Spidergirl”, “Melaozuda” etc.

Mas certa vez, como já disse que nunca bati muito bem da cabeça, tive uma idéia que julgava genial: me passar por uma dessas “gatas cibernéticas” e marcar um encontro com um cara qualquer. Era uma espécie de trote. Idéia pensada, idéia realizada. No mesmo dia, me registrei como “Shell, a filha da Concha” e me descrevi de forma impublicável neste blog de cunho muito mais sério do que minhas tramóias de criança. Aviso logo aos navegantes: se você tem pouco menos de trinta anos, é moreno e alto e em 2003 marcou um encontro com a “Shell, a filha da Concha” no Amazonas Shopping e levou um “bolo”, parabéns! Um garotinho de onze anos te zoou legal!

Você sabe quem mais pode te fazer de bobo? Os políticos que não praticam política.

“Cada vez me interessa menos pelo jeito sórdido como é praticada. As suas práticas me parecem tão pouco resultadas na necessidade de ter um programa de atendimento a uma vasta população de um país e tanto um programa de beneficiamento próprio, de engrandecimento próprio, de acumulação de poder ou o que mais seja, que eu tenho cada vez menos interesse, o que não significa que eu não acompanhe e que não tenha opiniões também. Mas de um forma geral, me enoja o seu processo do jeito que a gente acompanha.”

Quando Lulu Santos dava essa resposta a Marília Gabriela em outubro do ano passado, ele falava sobre o quê? Primeira opção: sobre a política; segunda opção: sobre política; ou terceira opção: sobre política?

Chega de superficialidade! Vamos aproveitar a onda de posts sobre temas intocáveis como preconceito, religião e materialismo e falar, como de costume, sobre política. Mas não traremos à tona os assuntos mais comentados das últimas semanas. Não falaremos da inflação, da visita de Dilma à China, do relatório final da PF sobre o mensalão, do apelo da OEA acerca da construção de Belo Monte, das polêmicas do novo Código Florestal... Nada disso! Trataremos dos aspectos cruciais da política.  Da essência que está envolvida em todos esses assuntos. Porque muito se vê pessoas reclamando da vida, dizendo que todos os políticos não prestam, a política não serve pra nada e, portanto, o destino da humanidade é terrível e a vida não presta. Meu Deus! Que conclusões apressadas e drásticas! Que drama é esse? A vida é linda, minha gente!

Não pense você que o segredo da vida é ser romântico, utópico. Não! O segredo da vida é ser otimista, é bem diferente. Muitos acham escapismo na religião, por exemplo, acreditando que a vida boa mesmo é a eterna, em um paraíso. Se você é desses, fique à vontade. Não te contesto. A questão simples aqui é que há como viver sem culpa, sem remorso, sem raiva. E neste mesmo mundo, diga-se de passagem. Acredite que há e você mesmo descobrirá. A graça nisso tudo está exatamente em investigar como pode se viver bem mesmo sendo impossível não se entristecer com os tsunamis no Japão, com as guerras civis no norte da África, com o desemprego de muitos europeus e norte-americanos, com a corrupção no nosso país. Enquanto um deputado ladrão manda sua filha estudar na Europa com dinheiro ilícito, uma velhinha está morrendo no corredor de um hospital sem capacidade de atendimento suficiente. Não há como não se revoltar com isso. E se me disser que se estivesse no lugar do deputado agiria diferente, eu acredito. Sério, eu acredito. Alguns diriam: “O quê? ‘Cê ‘tá de brincadeira? Duvido que não mandaria sua filha para a Europa”. E é esse o problema do ser humano: não acreditar nele mesmo. Não estou dizendo que o importante mesmo é agir como idiotas e acreditar em todo mundo. Pelo contrário, devemos desconfiar. É exatamente essa desconfiança que, com o tempo, mostrará quem realmente merece fé e crédito.

Mas você sabe o que é política? A política na maioria das vezes é entendida como a área onde atuam aqueles que podem promover alguma mudança a nível social, porque recebem poderes pra isso. É, portanto, a organização, o gerenciamento do Estado, do governo. Quem diz que política é toda e qualquer prática de seus representantes nos três poderes está absolutamente errado. Infelizmente! Porque somente assim podemos separar a prática política das outras atitudes de deputados, senadores, governadores etc. Quem dera pudéssemos afirmar que todo ato de político fosse ato político. Entende a questão? Se a regra fosse os integrantes do Estado serem éticos, a história seria totalmente inversa e, provavelmente, nem estaria escrevendo este post, tamanha a clareza do que seria a política na prática.


Apenas a nível de contexto, é importante entendermos rapidamente a origem da política. Etimologicamente, política vem de Aristóteles, ao se referir a toda a organização promovida pela administração da polis, ou Cidade-Estado. Logo, em conceito, política é a mesma desde o início, embora não se restringindo mais às cidades gregas, obviamente. É importante entender uma coisa: nem toda liderança pública era uma entidade política. Hebreus tiveram patriarcas, por exemplo, que não administravam nenhum tipo de máquina estatal. Isso, as vezes, não parece tão óbvio, por isso, ressalto. Mas, a política somente teve sua formalização como tal na Grécia Antiga. Esse modelo de poder de influência já era praticado pelos faraós ou pelos reis dos já citados hebreus.

“Que importância isso tem pra minha vida?” Só vai depender de você. A consciência do que seja política e do que seja Estado me parece suficiente para os eleitores não colocarem nos cargos do Executivo e do Legislativo “camaradas” despreparados ou duvidosamente corretos. Não há coerência no voto em Tiririca, com todo o respeito ao deputado e aos seus eleitores. Ele pode até botar pra quebrar no Congresso, mandar ver, mesmo. Levar adiante bons projetos, boas leis etc. Mas não há coerência o voto em um palhaço, não por ele ser palhaço, mas por não mostrar em momento nenhum da campanha a disposição de deixar de ser palhaço e levar a sério a política. O pior de tudo é o argumento de muitos dos que votaram nele. “Já está tudo uma palhaçada, mesmo! Isso é uma espécie de protesto!” Meu amigo, quer protestar? Então, vote direito, pelo amor de Deus! Também, não há coerência no voto ao deputado que claramente “abençoou” juízes para que lhe garantissem a limpeza do nome e o arquivamento de seus processos. É interessante observar que as pessoas que votam nesses cidadãos, muitas das vezes, são as mais rabugentas. “Esse Brasil não vai pra frente, ‘mermo’!” Vai entender!



O ex-presidente do IBAMA foi demitido porque não liberava a licença para a construção de Belo Monte. O deputado Aldo Rebelo praticamente só viu o lado dos agricultores na autoria do novo Código Florestal (ressaltando que boa parte da comissão que discutiu a carta era formada por “coronéis”). Dilma não tem moral pra discutir direitos humanos com Hu Jintao, quando seu governo impõe desumanamente a divisão de tribos indígenas nas margens do rio Xingu, para a construção de Belo Monte. Generalizando, é assim que a política tem sido praticada ultimamente. O que não significa que será praticada assim pra sempre.

É difícil ser otimista? Não. Também só vai depender de você. Lendo os posts dos Índios por Acaso, por exemplo, você pode se aprofundar na conscientização. Mas não de forma catastrófica e escatológica. Você pode fazer isso de maneira positiva. Leia de novo nossos textos, se revolte com a injustiça e acredite na justiça. Acredite que independentemente dos bugs da sistema capitalista, a vida pode ser mais justa. Não basta acreditar, é verdade. Faça o que você acha que pode promover qualquer tipo de mudança. Se você acha que militando poderá alterar algo, milite. Se acha que orando a Deus pode promover mudanças, ore, pelo amor de Deus! Não se prenda às circunstâncias e não se deixe ser feito de bobo.

Marvin Bessa

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