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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O teatro da diplomacia




Começa o primeiro ato...
“Ao olharmos para o futuro, o que é necessário, eu acredito, é um espírito de cooperação que também seja de competição amigável. Em áreas como as que acabei de mencionar, nós vamos cooperar, forjando parcerias e fazendo progressos que nenhuma das duas nações poderia conquistar sozinha”.
Essas frases são uma parte do “discurso” de Obama, há pouco mais de uma semana, sobre a relação dos EUA com a China. Relação essa que, aparentemente, mudou.
E algumas mudanças são simplesmente difíceis de serem realizadas (só não tão difícil quanto dizer quem é gay e quem não é em Ti Ti Ti ou quanto fazer uma pantomima de Lua Nova – ainda mais se você não assistiu ao filme). Essa é só mais uma delas.
Muito ainda há que ser acordado pelas duas representações, mas largos passos já foram dados e nenhum deles maior que as pernas. Certamente, a desvalorização do iuan é algo que preocupa não só o presidente americano como todos os americanos e todos os países que competem no mercado internacional com a China. Além de injusta no último, sobrecarrega a população chinesa, que, em sua maioria, ainda vive na pobreza, ganhando pouco e produzindo muito. E isso por motivos patrióticos pelos quais “o fortalecimento da nação é mais importante que as necessidades pessoais. Viva o dragão asiático! Viva a China! Viva aos direitos humanos!”

Direito humano, inclusive, é o que não teve Gregor Samsa, por exemplo. Aquele mesmo, da “Metamorfose”. Depois de se transformar em um inseto gigante, o garoto foi desprezado e enojado pelos pais. Os analistas da obra de Franz Kafka dizem que Gregor morreu. E depois da transição ao bicho, ele teria renascido. Será que é isso que significa mudar: morrer e depois renascer? Essa mesma constatação foi feita por Paulo, na sua segunda carta à igreja de Corinto e, principalmente, na carta aos gálatas, quando o apóstolo diz que a principal virtude do ser humano é se tornar “nova criatura”. Allan Kardec já disse que “a lei é nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre”. Embora num contexto obviamente diferente, Barack e Hu deveriam dar ouvidos ao espírita. Se mudar é morrer e nascer de novo, “Morra o dragão asiático! Morra o xerife! Morram os direitos humanos dos xing-ling!” – Para que renasçam e progridam para sempre, amém!
Pausa em analogias religiosas e esquisitas. Fim do primeiro ato. As cortinas se fecham. Intervalo para o cafezinho.
10 minutos depois, as cortinas voltam a se abrir. Começa o segundo ato...

“Está demorando demais/ Eu poderia estar errado/ Eu poderia estar pronto/ Mas se eu seguir os conselhos do meu coração/ Eu deveria aceitar, ele ainda está quebrado/ Eu estou em conserto”.

Poupemo-nos do romantismo da boa In Repair, de John Mayer e percebamos que ele admite: está em conserto, está sofrendo alterações. John Mayer morreu. Bom, pelo menos, o do rock acústico. Nasceu o do blues com soft rock e gotas de jazz. Sabe o que o cantor e músico tem a ver comigo, com você, com Obama e com Hu Jintao (além de achar a Jennifer Aniston uma gata)? Ele “renasceu das cinzas” (e olha que não é nenhum x-men).

E esse foi o sinal que o presidente chinês deu quando afirmou, pouco antes da viagem aos EUA, que aplicaria mais flexibilidade à taxa de câmbio: o de que a paz entre as potências renasceu. Aparentemente, as duas forças estão dispostas a colaborar para um bem “comum”. Isso é um milagre! O apóstolo Paulo que o diga!

Aliás, por falar em busca de bem comum, os mesmo líderes afirmaram que topam cumprir as propostas das COP’s de Copenhagen e de Cancún. “Morte ao dragão! Morte ao xerife! Vida longa às fenixes e ao planeta Terra!”

Essa postura da diplomacia sino-americana está sendo aplaudida no mundo todo (acredite! Até na China!). E se isso vai ser bom para o Brasil, só o tempo vai dizer, mas é provável que sim, mesmo que nossa relação comercial com os chineses ainda seja mais forte. Não se esqueça de que nosso país também está “in repair”.

Fim do segundo ato. O terceiro é só outro dia. O Arlequim que nos desculpe.
Marvin Bessa

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