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segunda-feira, 9 de maio de 2011

O ponto cego

Sabe o ponto cego do carro? Quando você olha para os retrovisores e não consegue ver nenhum carro atrás quando, na verdade, o carro está colocado em um ângulo que impossibilita que seja visto pelo retrovisor do carro da frente? Pois é. Esse “lado cego” (Blind Side) também é um termo usado no futebol americano (não tenho certeza se essa é a tradução mais precisa) e que dá nome ao filme que vamos tratar nesta segunda pós dia das mães: Um Sonho Possível (The Blind Side, em inglês).


O filme conta a história real de Michael Oher (Quinton Aaron), um jovem negro, pobre, acima do peso e sem-teto que não tinha muitas expectativas para com seu futuro até conhecer a família Tuohy. Michael, o “Big Mike”, foi separado de sua mãe viciada em crack quando ainda era pequeno e passou a andar por diversos lares adotivos desde então. Um de seus pais adotivos convenceu o técnico de uma escola católica particular, Burt Cotton (Ray McKinnon), a conseguir uma vaga para o garoto, visto que ele sabia jogar qualquer tipo de esporte que tivesse uma bola. Big Mike tinha o físico ideal para um tackle, jogador defensivo de proteção no futebol americano. Depois de muito insistir, Burt finalmente consegue uma vaga para Big Mike.


Aaaah. Que cara mais cristão, que se preocupa com o próximo, não é? Não. Burt só se esforçou porque Big Mike poderia ser um reforço de peso em seu time. Nada mais que isso. No entanto, Michael só poderia fazer parte do time quando suas notas aumentassem e, para piorar, seus pais adotivos tiveram que "se desfazer" dele por não terem mais condições de criá-lo. É ao vagar para o calor do ginásio da escola em uma noite bastante frienta e chuvosa que Big Mike conhece os Tuohy. Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock) resolve acolher o rapaz em sua casa e dá-lhe tudo o que ele nunca teve: um lar apropriado.  


A partir daí acontece o que todos devem imaginar: ele ganha roupas, um quarto, professora particular e um carro. Logo aumenta suas notas e é capaz de fazer parte do time de futebol americano. A coisa encaminha tão bem por boa parte do filme que o espectador se encontra esperando que algo de ruim aconteça. Acontece? Talvez sim, talvez não. Essa parte não cabe a mim contar a vocês. O que posso dizer é que Michael Oher joga no Baltimore Ravens desde 2009.

O filme dá uma ótima deixa para dissertar sobre racismo, apesar de Big Mike não ter sofrido tanto quanto nós imaginaríamos, mas eu prefiro escolher o preconceito, no geral, por ser mais abrangente. Primeiramente, é bom ter em mente que todos nós temos preconceitos, mas a diferença está em como nós lidamos com isso. Seja preconceito racial, social ou sexual.
O problema inicial talvez esteja na criação de estereótipos. Sabe quando falam que aqui em Manaus só tem índio ou que no Nordeste só tem pobre? Que os americanos são prepotentes e  arrogantes, entre outros? São estereótipos criados a partir de comentários generalizados sobre alguma nação. 

Pois bem. Nos últimos dias, um dos assuntos mais comentados junto com a "morte" de Bin Laden foi a aprovação unânime do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. É óbvio que a aprovação provocou a ira de muitos religiosos que afirmam que isso vai contra as leis de Deus e que a bíblia proíbe. O tão comentado Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) fez questão de falar que "Agora virou bagunça. O próximo passo vai ser a adoção de crianças (por casais homossexuais) e a legalização da pedofilia". Fazem questão de dizer, também, que é um mau exemplo para os nossos filhos, pois eles vão crescer com a ideia de que esse tipo de união é normal.


Bom, quem tem um certo conhecimento sobre seu país deve lembrar que, em tese, o Brasil é um Estado laico - que não tem religião. Então, é ilógico proibir tal coisa baseado em princípios religiosos. Ponto. Quanto ao deputado, eu acho que ele tem todo o direito de achar o que quiser de qualquer coisa. Não me entendam mal, pois eu não concordo com ele, mas defendo a liberdade de expressão. Só que liberdade de expressão é uma coisa, atacar e oprimir um determinado grupo é outra. Tentar proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo vai contra a felicidade alheia. Quanto aos nossos filhos, vale ressaltar que quem vai criá-los somos nós, não os outros. Querendo ou não, nós crescemos com valores impostos por nossos pais, só que alguns permanecem conosco, outros não. O meio influencia, sim, mas não por completo. Ele pode ter influência sob a personalidade, mas não pode criar uma completamente nova. Ah, e eu posso garantir que eu vou procurar ter um marido, casar e ter filhos. Ao menos a próxima geração está garantida, se isso é uma das suas preocupações banais. 

Cultivemos o amor ao invés do repúdio e o mundo será um lugar mais bonito.

Curiosidade: Sandra Bullock levou seu primeiro Oscar pela atuação como Leigh Anne Tuohy.
Jess Freitas

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